ex fumante de baseado agora só vaporizador de ervas
Que maconheiro não aprecia a arte de bolar um baseado bem bolado? A rotina era meticulosa: O primeiro passo era dichavar a erva. Mas não podia triturar demais senão depois o beck não tinha fluxo de fumaça e não dava pra fumar. Tinha que saber o que tava fazendo e nesse serviço de enrolar eu era mestre. Eu usava na época uma faca bem amolada e uma tábua de carne para fazer esse trampo de dichavar a ganja. Eu ia cortando de camadinhas finas e tirando as sementinhas de lado. Depois de triturar a erva agora faltava enrolar o beck usando uma boa seda e um filtro já dobrado para uso.
Depois de distribuir certinho a erva por toda a seda, vinha a parte que dividia os homens dos meninos. Dar o tombo no beck. Ali precisava de técnica para não abrir a seda e cair toda a erva pra fora. Sempre enrole encima dum pratinho pra não perder sua erva. Depois do tombo dado e tombo aqui se refere a arte de dobrar a seda de forma a manter o formato cilíndrico no papel. Agora basta um pouco de saliva e tá pronto, espera, falta pilar um pokin e ta feito um belo baseado. Cada passo desse ritual sagrado era um prelúdio para a fumaça que subiria no ar após o isqueiro ser usado de gatilho para a arte da brisa começar.
Fumei baseado por quase 15 anos a fio até que precisei mudar para um maldito apartamento no centro de São Paulo. Ali começou um inferno na minha vida que nem vou me estender aqui falando pois só de lembrar já me aborreço. Nesse mesmo período, um pouco antes de eu mudar para o condomínio do apartamento, eu já estava com uma irritação na garganta que não passava sabe era chato pois dava vontade de tossir do nada. Descobri que era por causa da fumaça do baseado, que a queima do papel liberava umas impurezas e tals que não curti saber disso. Eu estava numa saia justa, pois se fumasse no meu apto iriam reclamar do cheiro e de brinde ia zoar minha garganta. Cheguei à conclusão de que teria que dar um tempo de fumar minha maconha por causa dessas duas coisas chatas.
E assim eu fiquei 15 dias sem fumar beck, e o resultado disso foi um estresse monstruoso e ansiedade a milhão. Comecei a pesquisar sobre outras formas de consumir a maconha e me deparei com alguns tipos de óleos que cheguei a usar o cbd dum amigo mas não fez bem pro meu intestino aí o que me chamou mais a atenção foi o vaporizador de ervas. Isso foi em 2015 na época não tinha esse monte de sites vendendo vaporizador de ervas no Brasil então pedi a um amigo que viajava bastante pros Estados Unidos, me trazer um vaporizador de ervas que ele encontrou lá. Passado algumas semanas meu amigo chegou e conseguiu trazer um vaporizador de ervas pra mim. Me lembro de como se fosse ontem a sensação de vaporizar maconha pela primeira vez.
Hoje faz 10 anos que vaporizo minha erva e pra falar que nunca mais fumei um baseado estaria mentindo mas confesso que toda vez que vou fumar um beck que algum amigo apertou e fez questão de eu fumar com ele , realmente não me agrado mais em fumar. O ritual agora é outro. Ao invés de bolar um baseado, eu ajeito com carinho a erva na câmara de aquecimento do vaporizador. O isqueiro deu lugar a uns toques no botão power, a brasa deu lugar ao sistema de convecção. A fumaça com cheiro forte que pegava na garganta se transformou numa névoa de vapor quase invisível, sem marofa no ambiente e cheia de sabor e brisa. Poder degustar aquela buddy de boa genética, toda resinada sem aquele gosto azedo de papel queimado é outra vida . A minha garganta parou de coçar e agora eu só tusso no meio de uma sessão forte cheia de thc e terpenos, pois tosse agora só a da gente ficando chapado mesmo ou que exagerou na quantidade de vapor kkk. Meus vizinhos nunca mais reclamaram do cheiro ruim de maconha como eles diziam ‘Esse bagulho fedido da bexiga “. Eu não larguei o ritual, apenas o aprimorei, trocando a fumaça pelo vapor, a queima pela pureza. A experiência continua a ser uma jornada, mas agora, é uma jornada sem rastros de cinzas.